Confesso que ao ler ontem o
pronunciamento do Marcelo Freixo sobre a operação que matou o traficante Matemático
a minha emoção falou mais alto e pensei que ele estava defendendo um bandido. Porém,
quando a razão entrou na história entendi seu posicionamento. Não estava defendendo
o traficante e sim a forma como a operação foi realizada.
Convivi durante muitos anos com
alunos que moravam em comunidades constantemente vítimas de tiroteios entre polícia
e bandidos.
Quando lecionava à noite cansamos de
liberar alunos mais cedo, pois os pais ligavam para a escola solicitando que seus
filhos voltassem para casa porque “o tiro ia comer solto”.
Precisamos sair um pouquinho da
nossa zona de conforto e lançar um olhar generoso para aqueles que são reféns
dessa guerra que atinge em maior proporção quem vive nas zonas norte e oeste.
Transcrevo parte do discurso do
Freixo entendendo que a dignidade não pode ter CEP.
"O que estamos defendendo é que
se tenha controle legal sobre as ações de quem responde pelo Estado. Que aja
conforme o interesse público. Porque hoje se mata um traficante e a amanhã pode
matar qualquer pessoa. Não se trata de uma defesa de um traficante ou outro. O tráfico é cruel, é violento e
massacra a vida dessas comunidades, mas o Estado não pode competir com o
tráfico de quem tem mais capacidade de ser violento. Tem algo que diferencia o
Estado e o crime, que é a nossa necessidade de cumprirmos a lei. E esse
episódio precisa ser investigado. Por que o helicóptero estava sozinho, já que
não tinha operação por terra? Por que os tiros são dados colocando a vida de
terceiros em risco? Não podemos permitir isso. Uma operação como essa jamais
aconteceria em outro território que não fosse uma favela da Zona Norte ou Zona
Oeste do Rio. A dignidade das pessoas não pode ter CEP. O tráfico é bárbaro,
tem que ser enfrentado, mas o Estado não pode abrir mão do seu papel legal. Nós
queremos uma política de segurança pública eficaz, que os policiais sejam
valorizados, mas que garanta direitos e, acima de tudo, seja comprometida com a
dignidade humana", afirmou Marcelo Freixo.